terça-feira, 11 de junho de 2013

A Santa Agência, que diz?


ou:

O INFARMED a patinar no próprio lodo 

O Governo, por intermédio do Secretário de Estado da Saúde, publicou o Despacho n.º  7021/2013 de 30 de Maio – Reprocessamento de Dispositivos Médicos de Uso Único.
Não fosse a classificação “ de uso único” querer dizer o que diz realmente, eu já ficaria preocupado. Havendo no país uma entidade, designada “Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde”, que é o todo-poderoso INFARMED, triturador de mercados e legítimo representante das Celestiais Instâncias Europeias na terra – que é o mesmo que dizer, aqui, no protectorado – lá fui eu ver o que dizia a santa agência sobre o assunto. Encontrei isto que se pode ler aqui, de 2005. É claro que em 2005 ainda tínhamos país com soberania e tudo, andava a santa agência dedicada a encerrar fábricas de dispositivos médicos, que mesmo que nunca tivessem provocado danos a ninguém, pudessem por uma leve suspeição que eles lá tinham, vir a criar! Estavam a mando da Mãe Europa a redesenhar o mercado, e a contribuir para isto – tudo isto, com desemprego, miséria, reutilização de cateteres, tudo!
Ou estou a interpretar mal tudo isto, ou o INFARMED está a ser desautorizado. É bem feito; se perderem todos o emprego aprenderão pelo menos a recuperar o pouquinho de humildade que tinham antes de lhes ser dada a oportunidade de beijarem as bordinhas das vestes da inominável Europa.
Quando eu ainda era fabricante de dispositivos médicos, apareciam-me lá na fábrica, com aviso ou sem ele, inspectores de gabardine cinzenta. Chegavam invariavelmente num automóvel HONDA, a gasolina (!), com chauffeur, vinham da capital. Teriam partido no dia anterior, chegado ao destino pela tardinha, pernoitado num turismo rural da região, e nunca tocavam à campainha antes das dez e meia ou onze da manhã. Numa dessas visitas, o mais gordo e com aspecto mais repelente, depois de se ter metido meia hora no WC junto à sala de reuniões, ter tossido e espirrado de forma que nem o barulho da tecelagem, por baixo, conseguia amortecer, ter gasto todo o papel higiénico e pedido mais, saiu de lá todo suado a alegar a falta de um anti-histamínico… depois sentou-se e a propósito de não me lembro o quê, perguntou-me seis ou sete vezes seguidas se eu tinha o n.º de telefone do ministério da economia. Ele pronunciava “icunumia” e aí pela terceira vez que fez a pergunta, seguidinha,  a esbugalhar os olhos de suíno por trás de uns fundos de garrafão, eu já não sabia, era se não lhe devia enfiar o enorme e museológico aparelho de PBX, ali ao lado, pela cabeça abaixo. Pois, ainda repetiu a pergunta mais quatro ou cinco vezes, seguidinhas!
Não, eu não vou contar mais. Faz-me mal…

Agora há um tipo que despacha que os dispositivos médicos de uso único podem ser reprocessados… penso na sacro-santidade do INFARMED… no valor inalienável da saúde e no poder magnífico dos seus sacerdotes… isto é tudo merda.

Sem comentários:

Enviar um comentário