sábado, 5 de janeiro de 2013

Cruzeiro de Freamunde

 


 
            Enquanto fotografo o cruzeiro, atravessa a estrada de frente para mim, o poeta António Rodela.
            - Venha cá, também ficou na fotografia.
            - A tirar fotografias ao cruzeiro, é simples, há mais bonitos…
            - É bonito, robusto, e alto
            - Já escrevi umas coisas ao cruzeiro, um soneto, até tenho aqui
            O Rodela abriu a maleta de mão e expôs um grosso monte de papéis escritos com letra muito certinha, e um caderno; localizou a folha com os versos ao cruzeiro como se nunca tivesse tido outra em mente.


            Cruzeiro dos meus tempos de menino,
            Quantas noites inteiras de verão
            Eu faço a minha cama no teu chão,
            Até que para a missa toque o sino.

            E as vezes que eu girei em procissão
            Aqui ao teu redor, de opa ou de anjinho,
            No papel de autêntico santinho,
            Embora fosse só de ocasião.

            Os teus braços velhinhos e cansados
            São a mais linda renda de bordados
            Que a nossa terra põe na mesa.

            Quando tem que assear os seus portais
            Pra receber visitas cordiais,
            Em ti até o sol tem mais justeza.

                  Rodela, 11-10-2002

2 comentários:

  1. Fabuloso soneto. :)) Freamunde tem talento. :))

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    1. Freamunde é uma terra muito antiga e com características muito próprias; se lá passares um dia, por acaso, às três ou quatro da manhã, encontras sempre alguém com quem falar e beber um copo.
      Abraço.

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