sexta-feira, 8 de junho de 2012

Dandelion Wine

      
          A CIDADE FANTÁSTICA

            - Tom – disse Douglas -, promete-me uma coisa, está bem?
            - Prometo. Mas o quê?
            - Embora sejas meu irmão e eu, por vezes, te odeie, conserva-te perto de mim, está bem?
            - Queres dizer que me deixas ir contigo e com os outros rapazes mais crescidos nos vossos passeios?
            - Bem… claro… até isso. O que eu quero dizer é que te não vás embora, hein? Não te deixes atropelar pelos automóveis, não caias de nenhum rochedo.
            - Está claro que não! Mas afinal quem julgas tu que eu sou?
            - Porque mesmo que as coisas corram pelo pior e mesmo que ambos sejamos já muito velhos… assim com uns quarenta ou quarenta e cinco anos, um dia… podemos arranjar uma mina de ouro no Oeste e podemos ficar por lá a fumar barbas de milho e a deixar crescer as barbas.
            - A deixar crescer as barbas! Ena!
            - Como te digo, conserva-te perto e não deixes que te aconteça nada.
            - Podes contar comigo – disse Tom.
            - Eu não me preocupo contigo – disse Douglas. – Preocupo-me é com a maneira como Deus governa o mundo.
            Tom ficou a pensar nisto por momentos.
            - Mas ele está certo, Doug – disse Tom. – Pelo menos tenta.

       
            Ray Bradbury – Escritor, mestre em ficção científica
            22/08/1920 - 05/06/2012

            O excerto acima é do livro A CIDADE FANTÁSTICA
            Título original: Dandelion Wine
            1957
            Editorial Caminho 1986



4 comentários:

  1. Achei este diálogo uma delícia. Aguçou a minha curiosidade em ler o livro...
    Felicito-o pela homenagem que presta a este grande vulto da Literatura Universal Contemporânea, recentemente falecido.
    Se não estou em erro, alguns dos seus romances foram adaptados ao cinema.
    Um beijo e bom fim de semana.

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    1. Olá. É mais um dos da velha guarda que desaparece. Ele trabalhou muito para o cinema, sim. A vivência de fenómenos extremos que o Séc. XX proorcionou, iluminou muitos pensadores para verem até aos limites do que é humanamente susceptível de se pensar. A maior parte do que a humanidade produziu nos limites do que é humanamente possível, ficou sedimentado nas artes de uma forma geral, mas muito especialmente na ficção científica.
      Beijo, boa semana.

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  2. A Caminho ficção científica fez as delícias da minha juventude. Este livro não cheguei a comprar. Agora só mesmo procurando num alfarrabista. E mesmo assim não sei... :(
    Votos de um bom Domingo. :)

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    1. Meu caro, temos muitas coisas em comum. Promete-me uma coisa, conserva-te por perto, pelo menos não te deixes atropelar peelos carros e coisas assim. Num futuro qualquer podemos sempre encontrar uma mina de ouro, ou fumar umas barbas de milho a ver o Homem a voltar à Lua...
      Boa semana.

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