quarta-feira, 14 de março de 2012

A fórmula de José R. dos Santos

Terça Feira, 13 de Março (ontem), Telejornal - 20h (RTP portanto)
Ao minuto 29:34’’ aparece o José Rodrigues dos Santos muito assarapantado, com a caneta na mão direita, e diz em tom exclamativo:
- O bispo de Beja apresentou a solução para a seca – Rezem. O bispo afirma ser importante pedir chuva a Deus!
Depois seguiu-se uma reportagem com palavras do próprio bispo, sons dos cânticos religiosos dos crentes em novena e imagens dos terrenos ressequidos.

(Não vale a pena clicar na imagem, o link está abaixo, a vermelho no texto)

Mudei de canal para não ter de ver mais uma vez o pivô despedir-se com um piscar de olho; é confrangedor!
Confesso que fiquei de candeias às avessas com o JRS depois de ter lido “A Fórmula de Deus” - 574 páginas nada baratas que me conduziram, com o aproximar da última, à mais profunda sensação de ter sido enganado.
Até aquela altura, já tinha lido muitos livros do Isaac Asimov, do Stanislaw Lem, do Carl Sagan, do Bryan W. Aldiss,  do Fred Hoyle, do George Orwell, do Ray Bradbury, do Robert Silverberg e de tantos outros. Estava portanto preparado para tudo, mesmo tudo, o que da ficção científica pudesse vir, e da ficção científica pode vir tudo.
Na sobrecapa do meu exemplar do “A Fórmula de Deus” – Gradiva – um texto de apresentação diz assim:

… da mais importante descoberta jamais efectuada por Albert Einstein, um achado que o conduz ao maior de todos os mistérios.

A prova científica da existência de Deus.

Uma história de amor, uma intriga de traição, uma perseguição implacável, uma busca espiritual que nos leva à mais espantosa revelação mística de todos os tempos.

Ao longo das 574 páginas fui ficando convencido que tinha caído na fórmula Dan Brown, o que já seria deveras trágico. As últimas páginas já as li desassombrado; completamente consciente que tinha perdido dinheiro, gasto inutilmente o meu tempo, e pior que isso, tinha contribuído para a construção de uma fraude literária.
Explicada a minha antipatia pelo JRS, relembro o Telejornal de ontem (podem ver aqui) e continuo sem saber se aquilo foi sarcasmo para os crentes ou descoberta da pólvora – a Igreja Católica incita à oração – mas penso que JRS não devia trabalhar na RTP.

JMP

2 comentários:

  1. Adoro literatura de ficção científica. Reli recentemente um livro de Frank Herbert - Criadores de Deuses. Isso sim, é literatura que vale a pena. Quanto ao JRS... parece que já teve melhores dias.

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    1. Caro Luciano, a ficção científica é para mim o maior dos géneros literários. Para quem não lê, a ficção científica é “naves espaciais e tiros de armas laser”, mas pode nem ter nada parecido. A maior parte da minha experiência literária foi feita por esses lados; quando li “A Relíquia” do Eça, já tarde (depois dos 30), vi no livro um excelente trabalho sobre as viagens no tempo – à época inexploradas!
      À medida que o protagonista (o sobrinho querido da titi) se aproxima da Terra Santa, aproxima-se do tempo de Jesus, de forma que quando lá chega, encontra a Páscoa de Jesus - a Páscoa fundadora da nossa civilização. Quando volta a Portugal, à presença da “titi” volta ao seu tempo. É incrível! Um homem que não chega a entrar no Séc. XX, escreve um romance belíssimo com viagem no tempo!
      É por estas e por outras que tenho tanta dificuldade em aceitar a parca mediocridade dos “galardoados por coisa nenhuma” do nosso tempo.
      Vou ler esse livro que referes.
      Abraço

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