quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Ocorrência v

Ocupou os minutos seguintes com formalidades processuais, pôs o secretário a ler para a sala uma peça que lhe daria tempo a voltar a si, concentrou-se a olhar para as próprias mãos impecáveis, dedos longos, pele firme e macia, unhas cuidadas, tinha voltado a si. Já lhe rolava outra vez o olhar pela sala. A comunicação social quase não se via, iria aumentar já na próxima audiência. Aquela massa de gente tão heterogénea era tão intrigante quanto o pouco ruido que emitia; nem tosse nem bichanar nem o bulício de rabos nos bancos, trajes estranhos, tão diversos, não era costume ver-se pessoas tão velhas nos julgamentos.
Voltado a si, foi traído pelos próprios pensamentos. Sem saber de onde, a cabeça tinha desencantado a palavra encarnação e se verbalizasse o que sentia teria dito, encarnei!
Sentiu-se num vórtice.
Como tinha permitido que aquele processo chegasse a tribunal? Já tinha mandado às urtigas questões bem mais consistentes.
Recusou uma terceira vertigem, deu por encerrada a cessão e marcou a próxima para dali a um mês; questões de agenda.

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