segunda-feira, 2 de maio de 2011

E eu?

Aproveito todos os meus tempos livres para restaurar, ordenar e catalogar uma grande quantidade de documentos e objectos dos meus antepassados, acumulados ao longo da vida num quarto escuro.
Como fui capaz de comprar tantos livros que nem li, quando ali naquele quarto tenho a história toda da minha vida que mal conheço.
Se quero saber o que acontecerá aos desenhos que faço, às coisas que escrevo, às esculturas que escavo? – Quero, e sei onde estão as respostas; não tenho tido é a força necessária para olhar para elas. Tudo o que eu preciso de saber tem uma resposta naquele quarto.
Cartas escritas ao longo de vidas, cartas que não chegaram a ser enviadas, fotografias, postais de ocasião, fotografias feitas postais, postais ainda dentro do envelope selado, certidões de casamento, cartões de memória de defuntos, oferecidos à saída de missas de sétimo dia, recados em papel de embrulho, números de telefone estranhamente pequenos, direcções escritas num papel qualquer anotadas durante um telefonema a meio da noite…
Quero saber o que é a vida das pessoas e o que fica delas depois? Está tudo ali. Posso não olhar para lá, preferir ver cinema francês, mas não ando ao engano
Se quero saber se há Deus? – Quero.
Se a resposta também está naquele quarto? – Claro! Só não sei é quão atrás conseguirei ir na minha árvore genealógica.
Ocorre-me:
- E vós? Quem dizeis vós que eu sou?
Olho para um porta-retratos com a fotografia do meu bisavô José da Silva Moura, e da minha própria imagem reflectida, ouço: - E tu? Quem dizes tu que és?

3 comentários:

  1. Eu procuro quem eu sou. Procuro aquela que quiz nascer sem se ter encontrado. E digo-me que agora, com o tempo que passa eu vou, talvez, me encontrar...

    Estou também a descobrir um pouco de ti. Alguém com quem jà estive, mas que não tive o tempo de ver ! Alguém que conheci um pouco e que desconheço tanto...

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    1. Querida anónima, arranja um nome, mesmo que não seja o que te deram à nascença. Quando soubermos o nome que te dás estaremos mais perto de alguma coisa.

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    2. O meu nome de nascença agrada-me muito e foi com muito prézer que descobri o teu blog, Moura.Um beijinho enorme e espero que a tua vida corra bem.
      HIHIHI, não sei dar um nome e não tenho blog, mas assino com muito prazer. Ivone

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